Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Museu Paraense Emílio Goeldi descobriram uma nova espécie de peixe cascudo-graveto, do gênero Farlowella, em pequenos igarapés em Juruti, Baixo Tapajós, Pará. O estudo publicado na revista Neotropical Ichthyology em 28 de abril traz luz à importância de estudar a biodiversidade amazônica e um alerta para os impactos da atividade mineradora no estado: a espécie já entra catalogada como quase ameaçada.
O estudo da espécie foi realizado a partir de exemplares coletados em quatro estações de coleta em Juruti, no igarapé Rio Branco, igarapé Mutum e igarapé São Francisco. A partir da literatura, os pesquisadores utilizaram portal da Geospatial Conservation Assessment Tool para estimar áreas de Extensão de Ocorrência (EOO) e de Ocupação (AOO). Já para as categorias e critérios de status de conservação das espécies foi utilizado o Comitê de Padrões e Petições da IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza).
A nova espécie, chamada de Farlowella wuyjugu, se diferencia das demais congêneres por uma região gular nua (região ventral da cabeça, anterior ao istmo e abaixo da maxila inferior). Ela também possui cinco fileiras de placas laterais na região anterior do corpo, enquanto em muitas outras espécies se observam quatro. O nome wuyjugu refere-se à junção das palavras Wuy Jugu, autodenominação dos indígenas Munduruku. A etnia faz parte do tronco Tupi e está localizada em diversas regiões e territórios, nos estados do Amazonas, Pará e Mato Grosso.
Segundo o artigo, a descoberta e descrição do Farlowella wuyjugu contribui para o conhecimento do rio Arapiuns e para o entendimento da ictiofauna – conjunto dos peixes que vivem em um certo ambiente – da bacia do rio Tapajós. “Por isso é tão importante o trabalho de taxonomistas”, explica Manuela Dopazo, pesquisadora e co-autora do artigo. “A taxonomia auxilia outras áreas de conhecimento que podem ajudar nas tomadas de decisão para estudos futuros de conservação”.
Uma das fontes principais da economia da cidade de Juruti é a mineração de bauxita, operada desde 2006 pela empresa americana Aluminum Company of America (ALCOA). Segundo Dopazo, a atividade acontece fora do leito dos rios, mas afeta os corpos d’água locais por impactos como diminuição de fluxo, aumento de turbidez e alteração químico-física da água. Logo, a população de peixes das cabeceiras dos pequenos rios devem ser as mais afetadas pela mineração. “As ações a serem tomadas devem visar mitigar os efeitos de tais impactos no ambiente aquático”, salienta a pesquisadora.
A pesquisa demonstra a importância do conhecimento científico para estratégias de conservação da biodiversidade amazônica. “Apesar da Amazônia ser a região mais rica em diversidade de peixes do planeta, muitas dessas espécies ainda não são conhecidas pela ciência e podem ser extintas antes mesmo de serem descobertas”, finaliza Dopazo.
- Via Fauna News
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